Kylian Mbappé: "Este vestiário ajuda a crescer"

Entrevistas

De suas atuações à gestão da pressão, passando pelo seu progresso como jogador, o atacante do Paris Saint-Germain falou ao microfone da PSGTV

Kylian, você chegou muito jovem ao Paris Saint-Germain, e desde então, que ascensão! Como você vê seu progresso?

"Quando vim para cá tinha 18 anos, ainda era um jogador em desenvolvimento. Era portanto lógico que eu mudasse positivamente ou negativamente, mas eu ainda não sabia. Depois disso, quando você chega neste vestiário, com certeza isso te ajuda a crescer. Trabalhei com jogadores que ganharam tudo, jogadores que conheceram tudo na carreira, jogadores com muita experiência. Conheci diferentes treinadores, então isso me permitiu aprender filosofias diferentes também, porque todos eles tinham uma forma completamente diferente de ver o futebol. Então, quando você é um jogador, isso te permite somar várias características. Eu acho que também amadureci mais no meu jogo, e também cresci com a idade. Ao final, sou um jogador completamente diferente, muito mais maduro, embora ache que há alguns aspectos que ainda tenho que melhorar. Mas acho que entendi a importância, no futebol e no Paris-Saint-Germain, de prestar atenção a cada detalhe do seu jogo."

Você fala muito sobre sua relação com o ego, com a ambição. Quando há críticas, você sente que há uma motivação extra para tentar responder?

"Sim, é claro. Às vezes é uma questão de ego, às vezes não. Porque, como jogador, estamos em nossa bolha, estamos presos em um mundo em que jogamos a cada três dias e, finalmente, você vive plenamente sua busca por desempenho sem realmente analisar todos os aspectos do seu jogo. Às vezes as críticas são benéficas, porque nem sempre são para te machucar, mas às vezes para dar conselhos ou advertências, e também é bom levar isso em consideração. Depois disso, acho que você não deve levar para o lado pessoal, porque não é pessoal. Não é contra mim. Quem critica é quem julga a atuação de um jogador no momento, é algo normal e ainda mais quando se joga no Paris-Saint-Germain. É o clube mais assistido do país, um dos mais assistidos do mundo, então as críticas são legítimas. Falam sobre você todos os dias e, obviamente, não vão dizer apenas coisas bonitas, isso faz parte do jogo."

A pressão também faz parte do jogo. E quase temos a sensação, vendo você jogar algumas partidas, que é uma motivação para você...

"Sim, acho que preciso dela. Eu preciso sentir a pressão. Sempre foi assim e sempre quis ter responsabilidades sobre os meus ombros, sentir pressão, mesmo que às vezes signifique decepção. Mas isso faz parte do aprendizado. Eu nunca me escondi. Acho que isso também faz parte da adrenalina. Jogamos para participar de partidas com pressão, jogos que todos assistem. A pressão, eu levo positivamente e gosto dela, então não tenho nenhum problema com isso. Pelo contrário, acho que também me leva a não relaxar e a ser o mais consistente possível com a minha equipe."

Precisamente, você fala sobre as partidas que todo mundo assiste e analisa. Por outro lado, também é importante para você analisar seus oponentes?

"Sempre. Sempre estamos analisando, isso é importante. Claro, eu me beneficio disso. Mas também é importante para toda a equipe. De uma equipe à outra, você sempre tem que se adaptar, embora eu ache que somos o tipo de equipe que é capaz de impor o seu estilo. Temos qualidade para nos impormos muito rapidamente no jogo e acho que é isso que queremos estabelecer. Porque isso ainda exige muito esforço de adaptação ao adversário, cada um com uma particularidade, uma filosofia de jogo que não é a mesma."

Obviamente isso vem dando certo, já que você conseguiu marcar contra todos os times do Campeonato Francês… exceto o Paris!

"É verdade (risos)! Também é porque encontrei a motivação e fui muito bem servido. Hoje, em uma equipe onde os jogadores que me servem são Messi, Neymar ou Di María, é necessariamente mais fácil. É verdade que não foi fácil marcar contra todas as equipes, nada é garantido. Só penso em deixar a minha marca a cada jogo e ajudar o meu time. Depois disso, se eu marquei contra todas as equipes, significa que ganhamos, e é disso que me lembro."

O que acontece em campo quando você parte em um contra-ataque? Você procura um companheiro de equipe, parte em profundidade ou antecipa o espaço que será criado?

"Vamos dizer que é realmente o jogo que dita a minha escolha. Por exemplo, às vezes é um espaço que se libera e que não necessariamente trabalhamos nos treinos, algo que não se viu no adversário, porque os adversários jogam de forma diferente contra nós, em relação ao restante da liga. E isso é instinto. Você vê que o espaço está se abrindo, sabe o que o jogador provavelmente fará, você corre para tabelar ou até mesmo para liberar um espaço. Quando vemos, por exemplo, os gols que o Messi marcou, muitas vezes é Hakimi quem o libera espaço, mesmo sem tocar na bola. Então é realmente isso de permitir que um ou outro crie algo em movimento. Tentar ser imprevisível também. Porque se a bola não chegar a mim, ela chegará a outra pessoa. Portanto, são também esses automatismos que tentamos trabalhar, que tentamos criar para sermos o melhor possível."

Exatamente, como fazemos para criar esses entrosamentos? É algo natural ou que precisa ser trabalhado?

"Eu acho que é uma mistura dos dois. A adaptação é mais rápida quando o vínculo humano é forte, porque isso ajuda em campo, temos menos complexos, menos medos. Mas depois, é normal que novos jogadores cheguem com certezas, com padrões que trabalharam. Mesmo um jogador como o Messi, que jogou por 15 anos no Barcelona, ​​e por 15 anos e ele fez a mesma coisa, e funcionou. Quando ele chega aqui é diferente, então temos que deixar ele se adaptar e nós também temos que nos adaptar a ele. Acho que isso também é trabalhado nos treinos, onde conseguimos criar entrosamentos nos passes. A gente também consegue criar coisas nos jogos, não é necessariamente só no trabalho tático, mas em tudo que possa criar uma conexão, que você saiba que tal jogador, quando ele está lá, ele pode fazer isso ou aquilo. Ao final vocês acabam se conhecendo, porque há uma diferença em relação ao que vocês viram na TV. Todos assistimos aos jogos dos jogadores que chegaram, mas aqui é diferente. Aprendemos a saber que tal jogador prefere fazer isso ou um pouco menos outra coisa. Quando falamos em adaptação, é também saber analisar seus companheiros."

E na adaptação, qual o seu papel? Nós realmente não sabemos que tipo de homem você é no vestiário...

"Eu me dou bem com todo mundo. Falo várias línguas, e isso também ajuda os jogadores que não falam francês perfeitamente. Já estou aqui há muito tempo, então sou um dos líderes no vestiário. Tento ajudar a todos, porque estou convencido de que vamos precisar de cada jogador para vencer e que a hora de todos chegará. Hoje, talvez alguns estejam esperando um pouco mais, mas na temporada sempre há um momento em que chega a sua vez. Precisaremos de todos. E esse também é o objetivo, aproximar as pessoas, porque todos queremos conquistar grandes coisas."

Falando em objetivos, as estatísticas são importantes para você?

"Claro, porque é algo que permanece. Depois, acho que para marcar a história, não é só o fator estatístico. Eu acho que você tem que criar emoção. Mas a estatística também é um fator. Eu acho que quando você olha para os números, eles não mentem. Eles resumem um impacto. Resumem uma certa presença, uma certa regularidade. Mas não é só isso. Quando você marca gols, é para o seu time. Não é só para você. E estou numa equipe que me coloca nas melhores condições para jogar. Eu rendo bem para a equipe, mas a equipe rende bem para mim também."

Não é mais difícil trabalhar em suas estatísticas quando você está em uma equipe com muitos jogadores tão decisivos?

"É verdade, é uma questão de equilíbrio. Acho que quando você tem ótimos jogadores ao seu redor, o melhor é que eles fiquem felizes, porque você também vai se beneficiar com isso. Mesmo que você não marque, vai se divertir e vai conseguir ganhar títulos, porque é por isso que também estamos lá. Mas é certo que quando você joga com jogadores como Messi ou Neymar, em 12 bolas não dá para você finalizar 12 vezes. Não é possível. Você também tem que saber dá-la aos amigos, agradá-los. E isso é normal, porque esses são os jogadores que vão nos somar, que vão nos ajudar a vencer."

Você é o líder de assistências do nosso campeonato e um dos melhores da Champions League nesta temporada. Isso é algo que você tentou focar mais?

"Não, é uma coisa que eu já tinha, mas que perdi um pouco quando comecei a fazer muitos gols. Porque quando você marca muitos gols, você só pensa neles. É como suco de fruta, quanto mais você bebe, mais você tem sede (risos). Você marca, mas quer continuar marcando, porque ama a sensação. Você quer que se repita e talvez às vezes haja esse instinto de atacante de querer finalizar, de querer marcar. Depois, acho que quando você quer ser um grande jogador, um jogador especial, quando você pode fazer os dois, o gol e o passe, você não deve se privar, porque você não só faz um amigo feliz, mas também mostra que pode ser imprevisível. Hoje, a vantagem é que você não sabe se vou chutar ou se vou passar, sendo que antes as pessoas esperavam que eu chutasse. 'Kylian é o artilheiro do time, ele vai chutar', mas agora é muito mais imprevisível. É diferente. E isso também é uma questão de maturidade. Cresci e percebi que os passes não me impediam de fazer gols."

E o que você realmente define como objetivo para esta temporada, objetivos individuais ou coletivos?

"No ano passado, tive um grande ano individual, marquei mais de 40 gols, marquei na Champions League, fui o artilheiro do ano civil, mas não ganhamos a Ligue 1. Não ganhamos a Champions League. Então, ao final, você se pergunta se vale a pena marcar 50 gols se não ganhar. Então, digamos que desta vez eu prefira aparecer um pouco menos, fazer algumas assistências e ganhar o campeonato e a Champions League. Objetivos individuais, claro que isso é bom, mas se você não vencer, você só se divertirá pela metade. Então, o objetivo é realmente ganhar títulos, isso é o mais importante. Por enquanto, estamos no caminho certo, porque ainda estamos na disputa em todas as competições. Há grandes desafios pela frente e é para isso que temos que nos preparar."